"Quantas relações entre pessoas não se destroem por simplesmente nos esquecermos de que os outros são seres com sentimentos, e que mesmo que esses sentimentos nos confundam, não nos agradem, nos assustem, nos preocupem, eles existem por sermos seres humanos e é uma virtude saber respeitar os outros assim como eles são.
Não estou a chamar egoísmo no sentido depreciativo da palavra como se estivessem a fazer por mal, mas não deixa de ser egoísmo. Muitas vezes as nossas inseguranças, carências fazem com que tenhamos atitudes de egoísmo. Estamos a pensar em nós, na nossa preocupação, como às vezes precisamos que essa pessoa esteja bem pois fizemo-la responsável por parte da nossa alegria e bem-estar, mas cada um tem o direito aos seus momentos maus, a tomar decisões que não sejam do nosso agrado ou a se sentirem mal, mesmo que não nos faça sentido esse estado.
Sábado de madrugada falávamos sobre isso e alguém perguntava como reacções e comportamentos de preocupação poderiam ser vistos como egoístas, e alguém respondeu que podiam. Por exemplo, quando o filho vai estudar para longe e a mãe fica muito triste e chora e no fundo não quer que o filho vá, isso é preocupação, carência, saudade, como podia ser visto como egoísmo? Mas é, mesmo que sinta isso o mais importante é a felicidade do filho, qualquer mãe que não esteja a ter um comportamento egoísta, por mais que tenha saudades, não cobra, nem refere esse sentimento, importante é vermos as pessoas que gostamos felizes. E demonstrá-lo só fará com que o filho se sinta culpado por partir, quando está simplesmente a procurar a sua realização e felicidade.
Se gostamos muito de uma pessoa queremos que ela esteja connosco, queremos faze-la feliz, por isso é tão difícil perceber quando essa pessoa não quer receber o que lhe temos para dar. Se gostamos realmente de alguém queremos acima de tudo a sua felicidade, e ao lutarmos de forma irracional e desenfreada por conquistá-la estamos a passar por cima dos seus sentimentos e das suas vontades.
Para mim a capacidade de respeitar os sentimentos dos outros é uma atitude de grande maturidade, por vezes é difícil, também temos os nossos sentimentos para lidar, mas de certeza todos já passaram por um momento em que a sua dor, confusão mental, tristeza, preocupação foi pouco compreendida. Momentos em que andamos perdidos e que sentimos que não nos estão a dar espaço suficiente para o vivermos, apoiar sem querer mudar a nossa cabeça, apressar o processo, simplesmente estar lá, ouvir tudo o que pode parecer ilógico, dar conselhos e esperar por dias melhores.
Às vezes a preocupação dos outros e a sua angústia em nos querer ver bem pode parecer como pressão, parece que não temos o direito a estar mal, e por estarmos mal estamos a por outra pessoa mal. Assim não querem a felicidade dos outros, mas sim uma solução apressada para não terem que aturar o mau estar alheio, porque a felicidade dos outros nem sempre chega depressa, mas temos que saber apoiar e esperar, mesmo que nos canse, preocupe ou nos tire um pouco da ribalta e do centro das atenções.
Há momentos de dar e outros de receber, e às vezes temos que ter em atenção se não estamos a receber demais e a dar de menos. Choca-me pessoas que se dizem tão bem resolvidas com a vida, pessoas que fizeram da sua profissão lidar com saúde mental e não sabem respeitar o espaço dos outros, as suas angústias, preocupações as suas manias e maneiras de ser. Muito mais fácil criticar do que aceitar as pessoas como elas são e principalmente aceitar que não são como nós queríamos que fossem. Egoísmo no seu modo disfarçado, sem maldade ou intenção, ou não."
By 'somos todos um'
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