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Lu-zinha Lu-zinha Lu-zinha Lu-zinha Lu-zinha Lu-zinha Lu-zinha Now,you'll never know Lu-zinha ® 2011


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

As coisas

As coisas multiplicam-se

muito mais que as pessoas. Só elas

possuem o segredo de tranquilamente jazer

entre as ervas, as águas, as ruínas

ausentes e presentes. A sua pele

é mais fina que a casca dos minutos

e contudo, sob o lume e o vento

sob a terra em que os passos já não soam

ou no deserto violento das palavras

as coisas repousam

ou, subitamente iluminadas

gritam e falam-nos com movimentos graves

adejando como estranhos pássaros nocturnos

ou como trémulos animais interditos.



As coisas

sofrem

elas sofrem como se existissem noutra esfera

próxima de nós

como uma Lua oculta, como um peixe fantasma

como uma flor solitária numa casa abandonada

como um gato que no sono se agita pleno de medo

As coisas

minúsculas, gigantescas, iguaizinhas a nós

ensanguentadas pelo nosso terror e a nossa cólera

sob as nossas mãos

entre os nossos cabelos

repousando junto a nós quando dormimos

calmas como o ruído dum comboio numa cidade matutina

As coisas

respirando devagarinho nas nossas memórias

andando junto às nossas recordações como se fossem

um elefante, um rato, um cão fiel

feitas de barro, as coisas

de madeira ou de cera, de vidro ou de cimento

feitas de cristal e de platina, de celulóide

do fresco celofane, de aço e de papel

pobres coisas num rés-do-chão amontoadas

esquecidas como um trapo manchado

livres e belas

nosso testamento, papiro para milénios a vir

As coisas

sempre atentas, sempre dormindo esperando o despertar

o silêncio luminoso

As coisas



nossas irmãs de mundo, nossas filhas, nosso sinal perfeito

neste universo que é o nosso resumido encontro

com a sua



eternidade acontecida.



de Nicolau Saião
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